Nas profundezas das águas do Velho Chico
   16 de setembro de 2016   │     17:00  │  1

 

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O rio São Francisco possui uma beleza misteriosa fora e dentro das suas águas, que tem tranquilidade e força ao mesmo. Passear pelo Velho Chico exige conhecimento e experiência, já que segundo os índios caetés, o Opará é o rasto da lua, sua parceira, principalmente em noite como nesses dias, onde as águas tornam-se prateadas com o reflexo da luz lunar. Beleza e força, dois componentes que têm atraído homens poderosos para desgraça, como foi Sansão ao ser seduzido por Dalila. Assim é o Opará em sua plenitude, sedutor em suas águas.

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E foi neste misterioso clima que embarcamos em uma reportagem inédita, onde mergulhamos nas águas do São Francisco, penetrando em santuários ecológicos, como o Vale dos Mestres, um lugar onde se pode sentir uma energia mística incrível. Mas nossa impetuosidade foi além, mergulhamos em suas águas e fomos ao fundo do rio, ver as belezas existentes no mundo subaquático do Opará dos caetés.

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Águas turvas e em alguns lugares, com correntezas incríveis e capazes de arrastar qualquer mergulhador experiente. Nossa reportagem começa no riacho do Talhado, um afluente do Velho Chico, que foi inundado com a construção da barragem de Xingó. Nossa primeira parada é na gruta da natividade, onde segundo os guias do rio, estão presentes todos os elementos que formaram a fases geológicas da Terra. Lugar lindo e exótico. Uma gruta cravada no paredão dos cânions, bem na linha d´água, onde a profundidade pode chegar a 200 metros.

Nosso objetivo é buscar mostra a fauna e a flora existente no misterioso Opará (Velho Chico). Para isso voltamos ao Vale dos Mestres onde existem lugares com águas tranquilas para mergulhar e passear no fundo do rio. Nossa lancha chega ao local, mas estranhamento tem problemas no motor que deixa de funcionar e eu pulo da embarcação para puxá-la com uma corda até a margem.

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As águas são tranquilas e transparentes e  dá para ver o fundo do rio com suas  areias douradas. Ao largo uma tensa vegetação verde, chamada cabelo,  um lugar de refúgio de peixes e os cágados d´água. A única apreensão é quanto à presença de piranhas, mas elas só atacam se houver muito “alvoroço” na água, ou alimento como biscoitos ou carne vermelha, com sangue.

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O silêncio presente no Vale dos Mestres é algo ensurdecedor, que só é quebrado com o eco de nossa voz, que ressoa nos paredões em volta.  O Vale dos Mestres é uma concha acústica. Um lugar muito misterioso.

Colocamos nossa mascara de mergulho e partimos para aventura embaixo d´água. Logo de inicio vimos os tucunarés.  Peixe exótico à fauna nativa do Velho Chico. Esses peixes são oriundos do rio Tocantins e foram introduzidos no São Francisco tornando-se uma praga predadora para os peixes nativos, como o surubim e até o delicioso pitu. O desaparecimento desses dois habitantes naturais do Velho Chico se atribui ao tucunaré, que se alimenta dos filhotes do pitu e do surubim.

Mais as agressões ambientais ao Velho Chico têm sido tantas, que nem o predador tucunaré está resistindo. Segundo os pescadores esse “estranho no ninho” tem diminuído sua população no rio. “Tem sido difícil pescar tucunaré”, disse o experiente Lourival do Show da natureza. “Tucunaré era uma praga. Tinha muito, mas vem desaparecendo”, declarou ele.

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O fundo do rio São Francisco foi tomado pelo “cabelo”, uma espécie de alga, que se proliferou bastante com a falta das enchentes provocadas.  “As enchentes limpavam o fundo do rio fazendo um arrastão que deixava o Velho Chico pronto para correr livremente pela sua calha”, disse Eliseu Gomes, conhecido como Leleu da reserva ecológica do Castanho.

Outro conhecedor dos mistérios do fundo do rio é o guia turístico, Adalberto do Candeeiro, filho de caçador e mergulhador experiente. Segundo ele existe nas profundezas do Velho Chico, uma fauna ainda desconhecida, que se desenvolveu, como por exemplo, peixes gigantes que chegam a cinco metros cumprimento. Talvez surubins e pitus que podem chegar a seis quilos.

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Adalberto diz que o melhor horário par pescar, por incrível que pareça é à noite, quando o silêncio e a penumbra e total nas águas. “Podemos ver os olhos dos peixes nas águas, se acendermos uma lanterna”, relata ele.  Mas essa ação só pode ser realizada por pessoas muito experientes e que conheça a área.

Em nosso mergulho no Vale do Mestre podemos constatar a vegetação formada pelo cabelo e a presença dos tucunarés e algumas pirambebas, que são primas da piranha. Entretanto ficamos surpresos é com a grande quantidade de cágados d´água. Muitos ficam em cima das pedras tomando sol, ou nadando entre o “cabelo”.

Mergulhar na água do São Francisco requer cuidado e principalmente acompanhamento de guias locais, que conhecem os locais ideais para realizar essa aventura no fundo do Opará, que vale a pena conhecer pela beleza que existe no local. O difícil é não se apaixonar por esse paraíso formado pelo Velho Chico.

Está reportagem dedicamos ao ator da Rede Globo de Televisão, Domingo Montagear, que foi abraçado pelas águas do fantástico Opará dos índios caetés. Agora o Santo e o Opará são apenas um.  Que Tupã o rebe de braços abertos.

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