Defensor e amante do Rio São Francisco o Procurador Eduardo Tavares escreveu esta semana uma artigo que considerei muito importante e comovente e resolvi reproduzi em meu blog. Espero que os nossos leitores também aprecie e emitam seus comentários.
“As chuvas que têm caído, nos últimos dias, no Nordeste brasileiro, animam os sertanejos e, sobretudo, os ribeirinhos do São Francisco, que estão entusiasmados com a razoável situação das represas e, mormente, do lago de Sobradinho que já apresenta um acúmulo de mais de 37% de sua capacidade hídrica!
Na verdade, a situação continua preocupando como antes! As últimas águas em nada contribuíram para a saúde do “Velho Chico”! Para um rio que, quando descoberto, no ano de 1 501, tinha um deflúvio de 11.000 (onze mil) metros cúbicos por segundo e hoje, mesmo com as ultimas chuvas, conta com uma vazão de míseros 600 (seiscentos) metros cúbicos por segundo, não há o que comemorar!
O rio encontra-se em estado senil! Está praticamente morto! O aquífero de Urucuia, que alimenta o São Francisco e seus principais afluentes, está pedindo socorro. Nós brasileiros não somos uma civilização hidráulica, como a China, a Índia, o Egito e mesmo o Estado de Israel. Esses países, há mais de dois mil anos, trabalham bem com o manejo de águas dos rios e lagos fazendo, inclusive, transposições, mas com sustentabilidade!!!
Muitos têm sido os desastres ecológicos ocorridos nos últimos tempos! O maior deles foi provocado contra o mar de Aral, na Ásia! O homem foi capaz de secar as águas de um mar interior que banhava inúmeros países asiáticos e que, há 20 anos, tinha mais de 500 (quinhentos) navios singrando suas águas ondulosas e a produção de pescados era gigantesca. Hoje, só o Cazaquistão mantém 8% do volume d’água original daquele que foi o maior lago interior do mundo. Outro desastre recente foi a morte do rio Eufrates, confome descrito em apocalipse, sobre o final dos tempos, pasmem, e levou junto o Jardim do Éden! O rio Colorado, nos Estados Unidos, chegou a morrer a 100 (cem) quilômetros de sua foz, no Golfo da Califórnia, no México!
Será que nós ribeirinhos franciscanos passaremos por isso? O pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, de Pernambuco, tem afirmado que um rio morre pela foz! E é verdade! O “Velho Chico” que chegava forte em sua desembocadura no Oceano Atlântico, hoje tem sido invadido por ele!
Aquela musica do Luiz Gonzaga, lembra? Que diz, ” O rio São Francisco vai bater no meio do mar”, já não condiz com a verdade, pois o outrora
Rio da Integração Nacional, perdeu a força de sua correnteza, a imponência das velas de suas embarcações, a soberania do seu caudal! Em todo Baixo São Francisco o que se pesca são peixes do mar! O surubim, a xira, o mandim quase que não mais existem. O homem, seu maior inimigo, desmatou suas margens, realizou milhões de captações do precioso líquido e continua depositando em sua calha os seus dejetos! Nos seus mais de 2.800 (dois mil e oitocentos) quilômetros de extensão, apenas uma única cidade marginal possui sistema de saneamento básico, que é Lagoa da Prata, em Minas Gerais. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, propus, esta semana, em reunião ordinária, que durante o transcurso deste ano de 2018 nós debatamos sobre o Rio São Francisco, trazendo especialistas no assunto e procurando envolver os estados cortados pelo importante curso d’água. Quem sabe não ajudamos o “Velho Chico”, o bem natural mais valioso do Nordeste? Gente, os nossos recursos naturais são finitos e a crise hídrica mundial é uma realidade! Temos que cuidar dos nossos mananciais, dos nossos biomas! Não temos outra casa para morar que não seja a Terra, e não haverá uma segunda “Arca de Noé”. Vamos lutar até o fim pela sobrevivência do rio São Francisco, pois, conforme prega o ambientalista Jackson Borges, “mais vale preservar uma gota de suas águas, hoje, do que chorar uma lágrima por ele amanhã, mesmo que sincera”!
Eduardo Tavares é procurador de Justiça e ex-prefeito de Traipu