Hoje, dia 4 de agosto, completamos 30 dias do blog Meio Ambiente e Turismo aqui na Gazetaweb. Por isso reservamos para essa data uma matéria especial, que foi o registro da baleias jurbates no mar de Maragogi, no Litoral Norte de Alagoas. Coincidentemente, também se inicia hoje o período de acasalamento desses mamíferos exuberantes na costa brasileira. Foi com certeza uma das reportagens que marcaram os meus 25 anos de jornalista.
Foram 20 dias aguardando o momento ideal para entrar no mar em busca das baleias, que todos os anos procuram o nosso litoral para se acasalar, entre o período de agosto a outubro. São dezenas de baleias jubartes que cruzam o atlântico todos os anos, passando pela costa brasileira. No Nordeste, um dos pontos mais procurados pelos turistas para ver esses mamíferos maravilhosos é o arquipélago de Abrolhos, no litoral baiano.
Entretanto, ficamos sabendo, através de pescadores de Maragogi e Japaratinga, que seria possível observar as baleias em nosso litoral, a uma distância razoável, cerca de uma duas horas da praia. E foi aí que embarcamos no barco Filho do Monte 2 rumo ao mar, com a equipe do experiente pescador Ivanildo de Oliveira, também conhecido como Alemão.
Nossa aventura começou logo cedo, por volta das 5 horas da manhã, em direção à arrebentação, na passagem entre os arrecifes. O mar balançava o barco moderadamente, o que nos deu no início enjoo, que foi controlado com a ingestão de “Dramin” – medicação usada para evitar esse problema em alto mar.
Encontramos mais adiante barcos de pesca que tinham saído mais cedo que nós. Paramos juntos para nos informar sobre as baleias e obtivemos as primeiras informações: “Elas estavam logo cedo ali, ‘brincando’”, disse um dos pescadores. De imediato, resolvemos continuar rumo ao alto mar, em busca da jubartes.
O mar, à essa altura, passou a ter uma tonalidade azul escuro e as ondas ficaram mais fortes e altas. O barco balançava agora bastante e logo o enjoo tomou conta dos marinheiros de primeira viagem. Nosso piloto Guinho checava, no equipamento de GPS, o local onde iríamos parar garantir o sucesso da missão.
Por volta das 13 horas, chegamos ao ponto exato, chamado Cabeço. Os motores foram desligados a 3 milhas da costa. Dava para ver a torre da operadora TIM em Maragogi. Agora tudo dependia da paciência e da disposição física para aguardar as baleias aparecerem.
Para passar o tempo, começamos a pescar, mas sempre atentos ao mar para avistar as baleias. Os peixes começaram a morder nossa isca. Apenas algumas “mariquitas”, peixes de cor vermelha e olhos grandes e que têm espinhos no dorso, oferecendo risco para quem a pega com a mão sem proteção.
Ela vem chegando
A expectativa era grande quanto para aparecimento das baleias. Ficamos ali por quase uma hora pescando “mariquitas” e o enjoo era insuportável. Fui o primeiro a vomitar, quando de repente Alemão gritou: “Olha a baleia!”
Todos largaram as linhas de pesca e nossa equipe correu para pegar o equipamento e “mirar”, iniciando as fotos e gravando as imagens daquela enorme barbatana negra, que aflorava na linha d´água. Era uma baleia jubarte fêmea, com seu filhote. Tinha aproximadamente cerca de 30 metros de cumprimento.
Uma visão maravilhosa, que nos deixou atônitos e extasiados. Uma mistura de medo e alegria. Logo ligamos o motor do barco, para se aproximar. Mas nem foi preciso a jubarte veio para perto de nós, como se apresentando junto com o filhote. Uma visão magnífica! Um animal maravilhoso. símbolo da grandiosidade do criador. Vi ali, no meio daquele mar azul turquesa, diante daquele mamífero magnífico, como somos pequenos.
Como num clássico do Balé Bolshoi , a mamãe baleia e seu filhote subia e descia no mar, “dançado” para nós. A cena causou grande emoção, até mesmo ao velho e experiente Alemão. A mamãe baleia parecia brincar conosco, passando ao lado do barco e mergulhando por baixo, saindo do outro lado.
Manobras que nos deixavam extasiado e também com medo. O filhote não sai de perto da mãe em momento algum. Observamos também que, ao lado da baleia, outros peixes também grandes a acompanhavam. Segundo Alemão, eram as “bicudas”, que acompanham as jubartes em seu percurso pelo Oceano Atlântico.
Esse foi um espetáculo da natureza e tivemos o privilégio e a exclusividade de ser a primeira equipe de reportagem alagoana a registrar em alto mar a presença e baleias vivas nadando.
Segundo Alemão, a partir daí Maragogi passa a ter mais uma opção de passeio que vai com certeza atrair muitos turistas. “Eu estou pronto para iniciar esse trabalho”, avisa ele, que mora na cidade onde todos o conhecem e que chegou a ser vereador e presidente da Colônia de Pescadores.
A jubarte é conhecida como baleia cantora
A baleia que vimos é da espécie Jubarte, também conhecida como baleia-cantora, porque emite longos e complexos cantos musicais durante horas (ou até dias), padrões de notas graves que variam de amplitude e frequência repetindo sequências de forma coerente e organizada. As baleias somente cantam durante o período de acasalamento, por isso supõe-se que as canções tenham por finalidade atrair parceiros. Um fato interessante é que a canção, própria de cada baleia, evolui lentamente durante sua vida e nunca volta a uma seqüência de notas já cantada, mesmo anos depois.
A espécie alimenta-se exclusivamente durante o verão e vive de suas reservas de gordura durante o inverno. É um predador ativo que caça kril, copépodes e peixes em cardumes, como o arenque ( Clupea harengus), o salmão o carapau(Scomber scombrus), o escamudo( Pollachius virens), a arica (Melanogrammus aeglefinus), no Atlântico Norte, seja atacando-os diretamente ou golpeando a água com suas barbatanas para atordoá-los previamente.
A baleia jubarte tem o mais diversificado repertório de métodos alimentícios de todas as baleias. Sem dúvida, a técnica de pesca mais original da jubarte é a de borbulhas de ar. Esta técnica foi desenvolvida por cerca de 250 indivíduos apenas. Várias baleias formam um grupo que cerca o cardume por baixo e expulsam o ar de seus pulmões, formando uma rede de bolhas que vão forçando o cardume a se concentrar e subir para a superfície. Esta cortina de bolhas serve também para esconder visualmente as baleias até o ataque final, quando estas sobem com a boca aberta, tragando milhares de peixes de uma única vez.
O diâmetro da rede das borbulhas de ar pode alcançar 30 metros. Algumas baleias assumem a tarefa de criar as bolhas, ao emitir sons, expulsando o ar através de seus espiráculos. Outras mergulham mais em direção ao fundo para forçar os peixes na direção da superfície.
A reportagem sobre as baleias jubarte no mar de Maragogi foi esplêndida, não sabia que uma das praias mais lindas do mundo, ainda reservava este espetáculo grandioso. Parabéns a equipe de jornalismo.